quarta-feira, 14 de setembro de 2011

As coisas simples da vida

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"O mundo é mágico" - As aventuras de Calvin & Haroldo, por Bill Watterson.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Migrações




















Atravesso o horizonte
atravesso horizontes,
pontes,
nada me para
nada me para
Flutuo leve
como o esqueleto de
um pássaro, uma folha
desprezo ares,
mares
O vento me golpeia
a cara
como um inimigo
um irmão
e eu me sinto um cão,
um cão com asas.

Ignoro as cores
que as cores
nada mais são
que as cores
de outras cores
e eu rasgo um céu
verde-azul
vermelho-cinza
preto-qualquer-coisa
na velocidade do som
que agora é
uma canção antiga
O som do céu
sai de um piano
desafinado.
Canto o meu próprio
silêncio
que o gosto de estar só
é amargo – a liberdade
é uma flor comestível.

Furo as nuvens
de algodão colorido
Corro sem pernas
de nada valeriam
as pernas
num espaço-tempo
impossível
impassível.
O que me espera
é um nada
e o nada
restou de tudo
que se perdeu
e o que
se perdeu
já é também nada
e o tudo
é nada
e o que me espera
é um
tudo ou nada
de coisas nenhumas.

Sigo correntes migratórias
de ideias
planos refugiados
tudo se renova
em um exílio mental
tudo, tudo – de novo
este tudo
a me perturbar
a entupir-me os neurônios
Quero gritar
um não
de catorze as
– que os aviões escutem
que os ventos escutem
que os meus ossos escutem
que eu, surdo
escute
Não, nada me para
nada me para
tenho pressa
de vida
de morte
de sorte.

E eu me perco
dentro de um corpo
que me prende
como uma mensagem
na garrafa,
como inseto na teia
como sangue na veia
e vejo o mundo
correr
Desgraçada inércia
que me transporta
sem ser transportado!

Vejo sinais,
avisos
minha cabeça gira
como uma hélice,
ventilador
A estrada não tem
tijolos amarelos
e eu tenho (sim!)
um coração
que é mais animal
do que eu – selvagem
que é mais eu
do que eu
e o céu
agora é mar,
mas o mar não é céu
o mar é
refrigerante,
desinfetante
analgésico
e o sol
quando cai no mar
apaga
Tudo nessa vida
apaga:
o fósforo,
o amor.

Tantas e tantas
voltas
no mesmo lugar;
o mundo
é de plástico,
teu sorriso
é plástico
Eu desenho
um mapa
nas tuas costas
e pronto: o mundo
é tatuagem.


Foto: Jorge Bronzato Jr. (22/03/2011)