Quando por acaso me quiser
lembra de me amar em silêncio.
Não engana a ti com palavras.
Lembra de querer-me
assim: pedaço de mim. Jamais me deseje inteiro,
que o amor é medida incerta.
Quando por fim descobrir
que teu rosto faz casa em meus braços,
vem morar em mim devagar.
Não se afobe.
Não faça tropeçar o coração.
Ajeita o rosto, aquieta a alma.
Quando me amar, seja como
perfume em mim — e ao morrer de cada dia
te perderei ao vento.
Não pergunte. O amor não exigirá resposta.
Então, quando enfim não existir sempre,
te amarei. Tão quieto como um pôr-do-sol.
(da gaveta)
terça-feira, 17 de abril de 2012
terça-feira, 10 de abril de 2012
Não-despedida (fragmento)
(...) Senti no gritante silêncio dos olhos dela que algo se perdia de
um único golpe. Vagos, como globos foragidos de sua própria órbita, eles
anunciavam a indiferença contida nas palavras, que insistiam em não sair boca
afora. Fosse ela a responsável pela própria mudez, houvesse ela cadeado os
sentimentos que agora sequer debatiam-se no fundo escuro das retinas ou fosse
tudo parte do que ela chamava sinceramente de amor, eu jamais saberia.
Brotou-me – como se houvesse mastigado uma flor azeda – um misto de
melancolia e embrulho estomacal. Lembrei do outono amarelo, dos domingos
perdidos, das corridas na chuva. Imaginei-me uma peça humana de xadrez, onde
apenas a rainha é feita de algo como porcelana ou leite desnatado congelado.
Apartei-me inconscientemente de uns braços que agora insistiam em
mover-se contrários ao desejo da mente, retendo-me como posse. Eu, que sequer
sei ser de mim, já não estava disposto a apenas não ser de alguém. Deslizei
sutilmente pela mistura de lágrimas e suor que nos envolvia.
Voltaram rebobinadas à minha boca as palavras (mal)ditas que haviam
sido cuspidas em horas de gozo. Misturaram-se na memória, já entorpecida de
tantos desamores bebidos em copos baratos, cenas de outros filmes. Descobri que
somente a pele da vida é colorida.
Ela agarrou-se a mim como se eu fosse já um defunto, na última e
angustiante tentativa de julgar-nos inocentes ou culpados aos dois, sem
exceção. De longe, um outro eu, já agarrado a uma nova mochila de sonhos
idiotas, fotografava mentalmente o que parecia ser a negação de um abraço.
Não hesitei e segui. Na primeira estação fantasma, após doses e doses
de aguardente diluidora de lembranças, embarquei em um trem invisível, famoso
pela sua estrada de ferro em círculo. (...)
(da gaveta)
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Eduardo Galeano no "Sangue Latino"
"As coisas que se entendem de verdade, as coisas que podemos entender com a razão e sentir com o coração, são as coisas que a gente é capaz de olhar de dentro e de baixo".
Vale muito a pena.
terça-feira, 3 de abril de 2012
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