sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Invisível


Quando eu era criança, sempre preferi brincar dentro de casa. Não porque tivesse medo das possibilidades que o mundo do lado de fora da janela tinha para me oferecer: simplesmente achava injusto com a própria casa – que era sempre tão atenciosa em sua tarefa de me receber e abrigar – não conhecer todos os seus cantinhos.

Agir assim me rendeu, ao longo de toda a infância, poucos amigos. Poucos inimigos também, confesso. Não me importo. Tive anos bons, principalmente por poder escolher quando queria ficar sozinho.

Em alguns momentos, não lembro se nas terças-feiras ou quando chovia, procurava esconderijos para a minha solitária brincadeira de desdenhar a realidade. Ali, no escuro e em silêncio, embaixo de alguma cama ou camuflado em algum armário, ficava imaginando se me procuravam, ouvia (ou, não tenho certeza agora, inventava) as vozes de preocupação pelo meu sumiço.

Eu esperava por horas e nunca chegavam os bombeiros, os cães farejadores, as equipes de tevê. A vida me ensinou, assim, que nem sempre as pessoas, por mais próximas que estejam, dão pela nossa ausência. Aprenderia, depois, que elas também nem sempre dão pela nossa presença, ainda que estejamos perto.

Não sou mais triste por isso. Também não sou mais feliz, é algo que aceitei, calado e consciente.

Hoje, sei que há dias em que é preciso se esconder, sem esperar que alguém, conhecido ou não, apareça. Talvez, seja a melhor forma de se encontrar de verdade.