sábado, 30 de julho de 2011

Eus

Percebo agora que sou uma constante releitura de mim mesmo. Se, por um lado, já beiro as três décadas de vida, por outro, ainda guardo muito do garoto que aprendeu a ler nas páginas de um jornal, no colo do pai, lá pelos cinco anos de idade. Somos Jorges, os dois, eu e meu pai. Parecidos, mas muito diferentes.

Nessa estrada, já perdi a mãe, um irmão e a paciência para muitas coisas.

O eu que se desenha agora, futuro professor, futuro jornalista, ou os dois, ou nenhum, é fruto e parte dos eus que fui nesta longa sequência de outonos, desejando ou não. Talvez, seja essa a graça da vida, ser sempre novo não deixando de ser o mesmo. Diferente é ser igual.

Continuo não gostando de ser fotografado, apesar de já me ver sorrindo, vez ou outra, em alguns inevitáveis retratos.

Há dias em que quero viajar; há outros em que não desejo mais do que ficar em casa, sem botar o nariz para o lado de fora, mergulhado em um livro ou filme. Há dias em que, definitivamente, não sei o que quero – e isso é até um conforto.

Não gosto de gente que diz que não se arrepende de nada, que não leva desaforo para casa e que declara ser eclética quanto ao gosto musical. Não gosto do verão, do carnaval e acho festas de aniversário e textos de apresentação pessoal um pouco constrangedores. Tenho ficado mais chato a cada ano e não me envergonho disso.

Às vezes, me reconheço em poemas do Drummond e em músicas do Chico Buarque. Às vezes, sequer me encontro em mim mesmo e sou um forasteiro diante do espelho.

Mas, no final das contas, sou um cara feliz. Escolhi o que quis, na medida do possível, e aceitei o que me foi entregue, mesmo quando foi contra a vontade. Não tenho quase nenhum dinheiro no banco, não tenho carro, mas tenho a alegria de ser o que sou e de estar ao lado de quem gosto: minha família, amigos, meus cachorros, meus gatos.

Não acredito em destino, mas sei que preciso seguir em frente, e sem esperar encontrar respostas para muitas perguntas já acumuladas ou ainda por vir. Também sei que, em alguns momentos, farei isso com a leveza de espírito de um monge tibetano e, em outros, com a ira do Michael Douglas no filme “Um dia de fúria”.