Nessa estrada, já perdi a mãe, um irmão e a paciência para muitas coisas.
O eu que se desenha agora, futuro professor, futuro jornalista, ou os dois, ou nenhum, é fruto e parte dos eus que fui nesta longa sequência de outonos, desejando ou não. Talvez, seja essa a graça da vida, ser sempre novo não deixando de ser o mesmo. Diferente é ser igual.
Continuo não gostando de ser fotografado, apesar de já me ver sorrindo, vez ou outra, em alguns inevitáveis retratos.
Há dias em que quero viajar; há outros em que não desejo mais do que ficar em casa, sem botar o nariz para o lado de fora, mergulhado em um livro ou filme. Há dias em que, definitivamente, não sei o que quero – e isso é até um conforto.
Não gosto de gente que diz que não se arrepende de nada, que não leva desaforo para casa e que declara ser eclética quanto ao gosto musical. Não gosto do verão, do carnaval e acho festas de aniversário e textos de apresentação pessoal um pouco constrangedores. Tenho ficado mais chato a cada ano e não me envergonho disso.
Às vezes, me reconheço em poemas do Drummond e em músicas do Chico Buarque. Às vezes, sequer me encontro em mim mesmo e sou um forasteiro diante do espelho.
Mas, no final das contas, sou um cara feliz. Escolhi o que quis, na medida do possível, e aceitei o que me foi entregue, mesmo quando foi contra a vontade. Não tenho quase nenhum dinheiro no banco, não tenho carro, mas tenho a alegria de ser o que sou e de estar ao lado de quem gosto: minha família, amigos, meus cachorros, meus gatos.
Não acredito em destino, mas sei que preciso seguir em frente, e sem esperar encontrar respostas para muitas perguntas já acumuladas ou ainda por vir. Também sei que, em alguns momentos, farei isso com a leveza de espírito de um monge tibetano e, em outros, com a ira do Michael Douglas no filme “Um dia de fúria”.