Quando eu era criança, sempre preferi
brincar dentro de casa. Não porque tivesse medo das possibilidades que o mundo
do lado de fora da janela tinha para me oferecer: simplesmente achava injusto
com a própria casa – que era sempre tão atenciosa em sua tarefa de me receber e
abrigar – não conhecer todos os seus cantinhos.
Agir assim me rendeu, ao longo
de toda a infância, poucos amigos. Poucos inimigos também, confesso. Não me
importo. Tive anos bons, principalmente por poder escolher quando queria ficar
sozinho.
Em alguns momentos, não lembro
se nas terças-feiras ou quando chovia, procurava esconderijos para a minha
solitária brincadeira de desdenhar a realidade. Ali, no escuro e em silêncio, embaixo
de alguma cama ou camuflado em algum armário, ficava imaginando se me procuravam,
ouvia (ou, não tenho certeza agora, inventava) as vozes de preocupação pelo meu
sumiço.
Eu esperava por horas e nunca
chegavam os bombeiros, os cães farejadores, as equipes de tevê. A vida me ensinou,
assim, que nem sempre as pessoas, por mais próximas que estejam, dão pela nossa
ausência. Aprenderia, depois, que elas também nem sempre dão pela nossa
presença, ainda que estejamos perto.
Não sou mais triste por isso.
Também não sou mais feliz, é algo que aceitei, calado e consciente.
Hoje, sei que há dias em que é
preciso se esconder, sem esperar que alguém, conhecido ou não, apareça. Talvez,
seja a melhor forma de se encontrar de verdade.