Quando escrevo, não quero agradar a deus ou ao diabo. Não escrevo para libertar demônios. Quando escrevo, desatino de mim — sou o que jamais seria e, ao mesmo tempo, o que simplesmente quero ser, cru, e sou a própria palavra.
Não escrevo para ninguém, tampouco sei se para eu mesmo. Quando se encontram nos meus textos, é porque se perderam de algo (“não sou leitor do mundo nem espelho de figuras que amam refletir-se no outro, à falta de retrato interior”, já escreveu C.D.A.).
Inevitável, contudo, é ser egoísta, quando escrevo: o que o papel recebe das minhas mãos, é meu, tão-somente meu. Frases avulsas, mentiras sinceras, nãos, sins e talvezes, nada pertence mais a quem me falou, no momento em que me foi despejado, cuspido, largado.
Quando escrevo e sou a palavra, sou fragmento de mim, sou caco, mais caco, mais caco.
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